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terça-feira, 10 de setembro de 2013

O Diamante

O Diamante

     Maria estava com cara de poucos amigos. Pior. Estava com cara de amigo nenhum.
     Na mesa do jantar, Maria de repente falou:
     — Eu não valo nada.
     O pai de Maria disse:
     — Em primeiro lugar, não se diz "eu não valo nada". É "eu não valho nada". Em segundo lugar, não é verdade. Você valhe muito. Quer dizer, vale muito.
     — Não valho.
     — Mas o que é isso? — disse a mãe de Maria — Você é a nossa filha querida. Todos gostam de você. A mamãe, o papai, a vovó, os tios, as tias. Para nós, você é uma preciosidade.
     Mas Maria não se convenceu. Disse que era igual a mil outras pessoas. A milhões de outras pessoas.
     — Só na minha aula tem sete Marias!
     — Querida... — começou a dizer a mãe. Mas o pai interrompeu.
     — Maria — disse o pai —, você sabe por que um diamante vale tanto dinheiro?
     — Porque é bonito.
     — Porque é raro. Um pedaço de vidro também é bonito. Mas o vidro se encontra em toda parte. Um diamante é difícil de encontrar.
     — E em todo o mundo só existe uma Maria.
     — Só na minha sala são sete.
     — Mas são outras Marias.
     — São iguais a mim. Dois olhos, um nariz.
     — Mas esta pintinha aqui nenhuma delas tem.
     — É ...
     — Você já se deu conta que em todo mundo só existe uma você?
     — Mas, pai...
     — Só uma. Você é uma raridade. Podem existir outras parecidas+ Mas você, você mesmo, só existe uma. Se algum dia aparecer outra você na sua frente, você pode dizer: é falsa.
     — Então eu sou a coisa mais valiosa do mundo.
     — Olha, você deve estar valendo aí uns três trilhões...
     Naquela noite a mãe de Maria passou perto do quarto dela e ouviu Maria falando com o Snoopy.
     — Sabe um diamante?
Luís Fernando Veríssimo

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