O Diamante
Maria estava com cara de poucos amigos. Pior. Estava com cara de amigo nenhum.
Na mesa do jantar, Maria de repente falou:
— Eu não valo nada.
O pai de Maria disse:
— Em primeiro lugar, não se diz "eu não valo nada". É "eu não valho nada". Em segundo lugar, não é verdade. Você valhe muito. Quer dizer, vale muito.
— Não valho.
— Mas o que é isso? — disse a mãe de Maria — Você é a nossa filha querida. Todos gostam de você. A mamãe, o papai, a vovó, os tios, as tias. Para nós, você é uma preciosidade.
Mas Maria não se convenceu. Disse que era igual a mil outras pessoas. A milhões de outras pessoas.
— Só na minha aula tem sete Marias!
— Querida... — começou a dizer a mãe. Mas o pai interrompeu.
— Maria — disse o pai —, você sabe por que um diamante vale tanto dinheiro?
— Porque é bonito.
— Porque é raro. Um pedaço de vidro também é bonito. Mas o vidro se encontra em toda parte. Um diamante é difícil de encontrar.
— E em todo o mundo só existe uma Maria.
— Só na minha sala são sete.
— Mas são outras Marias.
— São iguais a mim. Dois olhos, um nariz.
— Mas esta pintinha aqui nenhuma delas tem.
— É ...
— Você já se deu conta que em todo mundo só existe uma você?
— Mas, pai...
— Só uma. Você é uma raridade. Podem existir outras parecidas+ Mas você, você mesmo, só existe uma. Se algum dia aparecer outra você na sua frente, você pode dizer: é falsa.
— Então eu sou a coisa mais valiosa do mundo.
— Olha, você deve estar valendo aí uns três trilhões...
Naquela noite a mãe de Maria passou perto do quarto dela e ouviu Maria falando com o Snoopy.
— Sabe um diamante?
Luís Fernando Veríssimo
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